Oi, Betânia, vamos em frente que atrás vem gente. Continue mantendo seu blog como um canal alternativo de comunicação independente entre os arquitetos que estão na contramão da Arquitetura oficial e das revistas do Sul. Com um abração, wolf
Arquitetura & Realidade
SEMANA QUE ABRIU AS PORTAS PARA A MODERNIDADE BRASILEIRA
Há 90 anos, acontecia em São Paulo, a Grande Semana de Arte Moderna. O evento, segundo os críticos, representou a carta de alforria de independência da cultura brasileira, ao se libertar do domínio cultural europeu, Evento que ocorreu no Teatro Municipal, projeto do engenheiro-arquiteto Ramos de Azevedo de 1911 que, por sinal, acaba de ser revitalizado.
A Semana, na opinião do cineasta e crítico Arnaldo Jabor, acabou ao longo dos tempos, numa espécie de efeitos colaterais, fecundando movimentos e transformações culturais significativos, como a valorização do folclore popular, do barroco mineiro, da tropicália, do cinema novo e, inclusive, da Arquitetura Moderna brasileira.
A Casa Modernista, de Gregori Warchavchik, de 1923, cujas linhas retas e racionalistas provocaram a ira de arquitetos acadêmicos da época, também só foi possível graças a esse sopro de renovação. Vale ressaltar que o folclore foi supervalorizado pela divina Janete Costa, autora do livro “Viva o povo brasileiro”, ao incluir em seus projetos de interiores elementos da cultura popular nordestina. Sem medo de pecar, diria que as bijuterias feitas com fitas e miçangas de nossa amiga Betânia também estariam nessa cadeia de produção criativa.
A Grande Semana, enfim, reuniu expoentes intelectuais, entre os quais, o poeta Mário de Andrade, o principal articulador do evento, autor do emblemático Macunaíma, um herói sem nenhum caráter. Que, na interpretação de muitos, seria a tradução do caráter e índole do povo brasileiro caracterizado pela irreverência, sensualidade, malícia, indolência, malandragem e ingenuidade. Macunaíma, inclusive, foi tema de um filme produzido por Joaquim Pedro de Andrade, com participação do inesquecível Grande Otelo.
O hit de sucesso “Ai, se eu te pego”, de Michel Teló, seria um reflexo atual disso, assim como foi o “Vira-Vira”, do Mamomas Assassinas. Ou o grito de guerra “Teeresinhaaa”!do saudoso Chacrinha. Assim, como, foi a canção “Eu vou pra Maracangaia…”, de Juca Chaves sobre JK e Brasília.. Ou, ainda, os filmes do “caipira “Mazzaropi¨, a exemplo do “Zeca Tatu” e “O corintiano”, que, apesar de marginalizado pela crítica, levou multidões aos cinemas. E, também, as coreografias do genial Paulo Barros, da Unidos da Tijuca, que deverá coreografar a solenidade de abertura da Copa de 2014…
Além de Mário, participaram da Semana, o poeta Menoti del Picchia, Oswald de Andrade, autor do polêmico “Paulicéia desvairada” e da peça “O rei da vela”, encenada, sob a a direção do iconoclasta Zé Celso, nos anos 70 , pelo teatro Oficina. E Tarsila do Amaral, que depois de sua fase cubista e social, com “Pau brasil” e “Os operários”, inaugurou o movimento antrofágico brasileiro, a tradução mais perfeita, a meu ver, de nosso jeito de ser brasileiro.
Para concluir, invocaria o comentário do crítico Franklin de Oliveira, a respeito do cinquentenário da Semana, registrado na publicação “A Grande Semana de Arte Moderna”, coordenada por Yan de Almeida Prado. Ou seja: ¨…a melhor maneira de festejar o cinquentenário (e, agora, os 90 anos) da Semana de Arte Moderna seria criar um novo Modernismo”, frente a um cenário cultural e arquitetônico atual tão carente, refém, ainda, de um mercado imobiliário movido pela especulação e estilos ¨tipo Miami!¨
José Wolf, São Paulo
Pra complementar este texto maravilhoso do meu amigo Wolf, veja os posts da minha amiga Patricia Cassemiro que cita o Chacrinha, um poste que fiz sobre a Janete Costa.
Bjs Wolf e obrigada por esta leitura deliciosa. Betânia Sampaio